Orgulho e arrogância, como ponto de partida para a derrocada

A história da política municipal em diversos municípios de Cabo Verde tem sido marcada por líderes que, embriagados pelo poder, cultivam uma postura de orgulho e arrogância que pode levar à sua própria derrocada. Em muitos casos, presidentes de câmaras municipais adoptam uma atitude elitista, distantes das realidades e preocupações dos cidadãos que deveriam representar. Este artigo pretende analisar como essa postura se manifesta e as consequências que dela decorrem, utilizando exemplos contemporâneos para ilustrar a questão.

Oct 13, 2024 - 04:55
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Orgulho e arrogância, como ponto de partida para a derrocada

É comum observar presidentes que acreditam que o domínio de conhecimentos teóricos, como os teoremas de Pitágoras, a resolução de equações de primeiro grau ou saber o valor do pi (TT), os habilita a serem líderes reconhecidos e gestores competentes. Essa visão estreita do que significa ser um líder ignora a complexidade das realidades sociais e econômicas que permeiam a vida municipal. A gestão pública exige não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade, empatia e habilidade para ouvir e dialogar com a população.

A crença de que a erudição acadêmica é suficiente para liderar gera uma desconexão com os munícipes, que frequentemente se sentem desprezados e rotulados. Aqueles que se atrevem a questionar ou apresentar opiniões divergentes são rapidamente tachados de "atrevidos", “fracassados", "ignorantes" ou até mesmo "frustrados". Essa retórica não só desestimula a participação cívica, mas também cria um ambiente hostil, onde o debate democrático é sufocado.

Um presidente que se considera acima do bem e do mal, incapaz de ouvir críticas e sugestões, acaba por se isolar. A falta de diálogo com a população pode levar a decisões desastrosas, pois ignora as necessidades e anseios dos cidadãos. Ao invés de fomentar um ambiente colaborativo, esses líderes se tornam figuras autocráticas, cujas acções são frequentemente impulsionadas pela vaidade e pela necessidade de manter uma imagem de autoridade.

Essa atitude de desdém em relação à opinião pública pode resultar em políticas mal formuladas e, consequentemente, em insatisfação generalizada. O desprezo pelos "frustrados" que se opõem à sua visão acaba por criar uma divisão entre o governo municipal e a população, minando a confiança nas instituições.

Outro aspecto preocupante dessa arrogância é o desprezo pela liberdade de imprensa. Líderes que se sentem ameaçados por críticas ou questionamentos muitas vezes tentam silenciar vozes dissonantes. Isso pode manifestar-se na forma de tentativas de impor a chamada "lei da rolha", que busca restringir a liberdade de expressão e o acesso à informação. Quando um presidente de câmara se utiliza de processos judiciais como arma para intimidar jornalistas e cidadãos que pensam diferente, ele não apenas atenta contra a liberdade de imprensa, mas também contra a própria democracia.

A liberdade de imprensa é um pilar fundamental de qualquer sociedade democrática. Sem ela, o controle da narrativa torna-se uma arma poderosa nas mãos de líderes autoritários, que tentam moldar a realidade à sua conveniência. A tentativa de calar a oposição e desacreditar quem questiona a gestão resulta em um ambiente de medo e autocensura, onde as vozes críticas são silenciadas.

A derrocada de líderes que agem com arrogância é, muitas vezes, uma consequência previsível de suas próprias acções. Quando um presidente de câmara municipal ignora as vozes dos cidadãos e busca silenciar a imprensa, ele não apenas compromete sua própria imagem, mas também coloca em risco a estabilidade e o desenvolvimento do município. O afecto e a confiança são fundamentais para uma gestão bem-sucedida; sem eles, a administração se torna vulnerável a crises.

Histórias de líderes que caíram em desgraça devido à sua soberania são comuns. A alienação da população frequentemente resulta em protestos, perda de apoio político e até mesmo em processos judiciais. O descaso para com as opiniões dos cidadãos e a repressão à liberdade de imprensa transformam um governante em um alvo fácil para críticas e oposição, levando a um ciclo vicioso de descontentamento.

É fundamental que os líderes municipais compreendam que o verdadeiro valor da gestão pública reside na capacidade de escutar e dialogar com os cidadãos. A formação acadêmica e técnica é importante, mas não é um substituto para a humildade e a empatia. Um presidente que se coloca em um pedestal, andando com o rei na barriga, acreditando ser o "salvador da ilha", acaba por se tornar uma figura de caricatura, longe da realidade que deve representar.

Os municípios necessitam de líderes que não apenas saibam os números, mas que também tenham a capacidade de entender as histórias e os desafios das pessoas que servem. O orgulho e a arrogância podem ser sedutores, mas é a humildade e a disposição para aprender com os outros que, de fato, pavimentam o caminho para uma administração pública eficaz e respeitada.

Em suma, o orgulho e a arrogância são inimigos silenciosos que podem levar à derrocada de líderes e à desconfiança nas instituições. Para que a gestão pública floresça, é imprescindível que os presidentes de câmaras municipais adoptem uma postura de abertura, diálogo e respeito pela diversidade de opiniões. A repressão à liberdade de imprensa e a intimidação de quem pensa diferente são sinais claros de um governo que se distancia da democracia. Ao cultivarem qualidades como a empatia e o respeito pela liberdade de expressão, eles não apenas fortalecem a democracia local, mas também garantem que suas administrações sejam lembradas por suas realizações e não por suas quedas.

MS