PALÁCIO DO PLATEAU: O REVANCHISMO FICA À PORTA
Cabo Verde tem experimentado dificuldades em fazer emergir da política figuras supra-partidárias. A curta história democrática da Nação cabo-verdiana tem sido conformada por ambientes políticos marcados por confrontações partidárias excessivas, dos quais as mais altas figuras políticas do país, nomeadamente os ex-governantes, não têm podido livrar-se.
Cabo Verde tem experimentado dificuldades em fazer emergir da política figuras supra-partidárias. A curta história democrática da Nação cabo-verdiana tem sido conformada por ambientes políticos marcados por confrontações partidárias excessivas, dos quais as mais altas figuras políticas do país, nomeadamente os ex-governantes, não têm podido livrar-se. Estes não têm sabido demarcar-se o suficiente das pequenas questíunculas da política doméstica para se poderem constituír e se reservarem enquanto activos do país e não dos partidos políticos. Produzem opiniões partidarizadas, sectárias e, não poucas vezes, tendenciosas. Aliás, quase sempre, a intenção é protagonizar a polémica com alguma dose de conflitualidade pelo meio. Alguns, em função das suas personalidades, são, per si, figuras controversas. Para estes, o caldo político nacional é apenas um adicional para catalisar esta propensão para a polémica e para o conflito e, igualmente, funciona como ambiente propício para que pessoas desta natureza se realizem na política da guerrilha, do bota abaixo, da obstaculização, da intriga, do rancor, dos ajustes de contas e da vingança.
A figura do José Maria Neves, ex-Primeiro-ministro de Cabo Verde, encaixa no quadro acima descrito. Hoje, poderia estar a afirmar-se como uma figura de Estado, de âmbito, quiçá, internacional. Porém, infelizmente, não se consegue desenvencilhar da sua dimensão “paroquial” e não deixa de ser tão somente o José de Santiago, desbaratando os 15 anos de investimento que o país fez na sua pessoa.
Desde que deixou o cargo de Primeiro-ministro, o José tem estado a preparar, digamos assim, com alguma subtileza e perspicácia, a sua candidatura para Presidente da República. Até aqui nada de anormal. Ademais, é um direito que lhe assiste e decorre do princípio da universalidade da Constituição da República.
A sua estratégia e o respectivo plano para se fazer à Presidência da República estão à vista de todos, não obstante, ainda, não ter assumido explicitamente este projecto que, com certeza, é o seu maior sonho político.
As acções que aqui e ali vem desenvolvendo não são obras do acaso, mas enquadram-se num plano há muito delineado e que vem sendo executado à luz de um guião que foi idealizado e criado pelos seus assessores, “aprendizes de feiticeiro” da Comunicação e do Marketing Político.
Nessa linha, criou uma fundação para angariar fundos e ter visibilidade em conferências e palestras de âmbito nacional e internacional.
Faz de tudo para se apresentar como o grande líder da oposição, com o fito de federar à sua volta aqueles que não se revêem no MpD. Outro objectivo é o de ocupar o espaço de Janira Hopffer Almada, remetendo-a para uma dimensão menor, para que em 2021 esta não esteja em condições de impor ao PAICV outro candidato que não seja ele.
É neste quadro que se justifica a intensidade com que tem publicado no Facebook, num permanente ataque ao governo e com níveis de hostilidade fora do comum. E é aqui que o seu comportamento foge ao padrão da normalidade, pois aparenta excessiva obsessão para o cargo de Presidência da República, apresentando este objectivo como um caso de vida ou de morte, ao mesmo tempo que em passo contínuo elege Ulisses Correia e Silva como o alvo a abater, socorrendo-se de linguagem agressiva para atacar as medidas políticas do actual governo. Deixa claro que a razão maior que sustenta a sua vontade em ser Presidente da República é para ficar em posição de poder fazer “vida negra” ao Governo que os cabo-verdianos legitimamente escolheram nas eleições de 20 de Março de 2016.
Que ninguém tenha dúvidas que é essa a intenção maior, senão a única, que move o José. Com efeito, quer ser Presidente da República não para ser o mais alto magistrado da Nação, mas, sobretudo, para se vingar das derrotas eleitorais que o PAICV sofreu. Não devemos perder de vista que o maior derrotado nas eleições de Março (apesar de não ser candidato) foi precisamente José Maria Neves, porquanto foi o insucesso da sua governação que foi escrutinado e chumbado nesse fatídico dia para o PAICV e para o José. Um dia que foi, paralelamente, também de esperanças e certezas para os cabo-verdianos.
As esperanças do José em vir a ser Presidente da República ancoram-se na sua convicção de que, no momento da escolha do candidato a apoiar, o MpD irá dividir-se e, assim, estender-lhe o tapete vermelho para o Palácio do Plateau. Confia que o MpD cometerá o erro crasso por ele cometido em 2011 quando, contra todas as previsões, preteriu Aristides Lima e escolheu o seu homem de mão Manuel Inocêncio. Com isto, semeou a tempestade no seu partido, gerou a divisão nunca dantes vista no PAICV que era tido como um partido coeso e resistente às crises. Mais do que isto, revelou-se um mau líder, alimentador de conflitos grupais, promotor de intrigas internas e implacável para com aqueles que não lêem pela sua cartilha.
A prenda que espera do MpD, na certa, que não vai ter. Pois o MpD, com as crises do passado, que soube muito bem resolver e das quais tirou os ensinamentos que se impunham, ganhou uma grande maturidade institucional e os seus dirigentes atingiram um nível de consistência politica capaz de evocar a razão e a sapiência na hora das decisões importantes, posicionando-se como um partido de causas e não de coisas ou pessoas, pelo que o cenário de divisão é remoto.
Aliás, uma eventual candidatura do José vai unir o MpD ainda mais no objectivo de inviabilizar um Presidente de República de uma facção e contribuir para que o país tenha, de facto, um Presidente de República de todos os cabo-verdianos e de toda a Nação. Haverá uma maior união no MpD para que o Presidente eleito seja uma figura que coopere com o governo e que tenha capacidade de convocar e mobilizar a Nação cabo-verdiana para o desafio de fazer o país atingir patamares de desenvolvimento nunca dantes conhecidos. Seguramente, esta figura não será o José, um homem de mente totalitária, sectário, conflituoso, de visão restrita, sem sentido de Estado e incapaz de se libertar das altercações partidárias para se elevar e se colocar na dimensão do país e dos seus desafios.
A sorte de Cabo Verde é que os 15 anos que o José esteve como Primeiro-ministro deram para os cabo-verdianos conhecerem muito bem a sua personalidade. Hoje - estou certo -, pelo conhecimento que os cabo-verdianos têm do José, jamais o escolheriam para Presidente. Não o escolheriam porque não querem no mais alto cargo político alguém rancoroso e com espírito de vingança e que vai usar o cargo de Presidente de República para revanchismos e oposição ao Governo, para criar crises institucionais, para adiar o desenvolvimento do país que nos próximos tempos precisa entrar em velocidade de cruzeiro para se libertar das nefastas heranças deixadas pelo José.
O José, em suma, é uma figura provinciana que conjunturalmente liderou o PAICV e chegou a Primeiro-ministro, mas que dificilmente chegará a Presidente da República, porque hoje é sobejamente conhecido. Pelo que, por mais que na campanha venha a recitar poesias e a proferir discursos ao seu estilo, ora inflamados, ora mansos, não mais conseguirá colher a preferência dos cabo-verdianos.
Os 15 anos de efabulação e devaneios, de logro e de ilusionismo, em nada deram e, hoje, o país reclama por novos desafios que devem ser liderados por novos actores, por quem, realmente, tem compreensão destes novos tempos e dos novos anseios e ambições dos cabo-verdianos. E o José, definitivamente, não cumpre com os requisitos exigidos. É um produto com defeito e fora de prazo!