No entanto, essa pluralidade também veio acompanhada de uma mudança significativa no sistema econômico, com uma forte ênfase na “privatização”. A criação de “empresas privadas”, tanto nacionais quanto estrangeiras, não apenas redefiniu o papel do Estado na economia, mas também permitiu que membros dos governos se envolvessem diretamente na criação e participação como “acionistas” dessas empresas.
Antes de “1990”, no contexto do “partido único”, os dirigentes do Partido eram impedidos de possuir empresas. O Estado era o único “proprietário” e “administrador” das empresas públicas, mantendo o controle direto sobre os setores estratégicos da economia. Entretanto, com a chegada do pluralismo político, houve uma guinada no sentido de privatizar esses ativos. Mas é fundamental ressaltar que os dirigentes do “PAICV” não realizaram privatizações durante o processo de transição democrática, da era do monopartidarismo para o multipartidarismo.
Somente após a mudança de governo, os altos dirigentes do “MPD” promoveram uma série de “privatizações” que afetaram grandes empresas estatais, inaugurando o que ficou conhecido como o período da “Vaca Gorda”. Essas privatizações beneficiaram, em grande parte, grupos próximos ao poder, transformando “amigos e aliados” do governo em grandes empresários. Esse processo consolidou uma classe empresarial que hoje fornece apoio significativo ao “MPD”, especialmente em “campanhas eleitorais”, defendendo assim seus interesses econômicos e de classe.
É inegável que, em qualquer democracia, os “partidos políticos” dependem de uma base econômica sólida para sustentar suas campanhas e seus projetos. Tanto em Cabo Verde quanto em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos, as classes empresariais se aliam a determinados partidos, financiando suas campanhas e promovendo suas agendas. No caso de Cabo Verde, o “MPD” desenvolveu, ao longo das últimas décadas, uma “classe empresarial forte”, que se consolidou a partir das oportunidades criadas pelas privatizações iniciadas em 1990.
No entanto, essa política de fortalecimento de uma elite econômica tem um preço. O “MPD”parece caminhar no sentido de “ enriquecer os mais ricos”, enquanto os mais pobres permanecem à margem, aprofundando as desigualdades. Em contraste, o “PAICV” defende uma política de “justiça social” e “redistribuição de renda”, buscando um sistema de “tributação mais justo” e promovendo oportunidades para os mais pobres, com melhor acesso ao mercado de trabalho, “salários dignos” e um foco no “bem-estar social”.
O povo cabo-verdiano deve encarar o “ período de campanha eleitoral” como um momento de profunda reflexão. É fundamental analisar o passado, os sacrifícios feitos, as promessas não cumpridas e os rumos que o país tomou. A “decisão eleitoral” não se refere apenas a um mandato de cinco anos, mas pode determinar o futuro do país por muito mais tempo. O caminho a ser escolhido deve ser aquele que promova justiça, igualdade e bem-estar para todos, e não apenas para uma minoria privilegiada.