Problemas do futebol Federado na Ilha Brava, uma análise de Adilson Bango

Cidade de Nova Sintra, 29 de Dezembro de 2024 (Bravanews) - Em entrevista ao podcast Desporto Brava, o presidente do Clube Desportivo Benfica, Adilson Bango, fez uma análise profunda e realista sobre os desafios que o futebol federado na ilha enfrenta atualmente. Com um orçamento de participação superior a 500.000 escudos e receitas na ordem de 200.000 escudos, Bango considera ser "impossível" para os clubes da ilha continuarem a participar nas provas regionais, dado o desajuste financeiro que existe entre o orçamento e as receitas geradas.

Dec 29, 2024 - 06:38
 0  81
Problemas do futebol Federado na Ilha Brava, uma análise de Adilson Bango

Adilson Bango não escondeu sua preocupação com a acual situação financeira dos clubes da ilha Brava. Segundo o presidente, o orçamento necessário para sustentar a participação nas competições regionais está desfasado da realidade económica local. "Com um orçamento de mais de 500.000 escudos para as despesas do clube e receitas que rondam os 200.000 escudos, é impossível manter uma presença constante nas provas regionais sem o devido suporte financeiro", afirmou Bango durante a entrevista. A falta de patrocínios e a escassez de apoio institucional têm dificultado o sustento financeiro dos clubes, comprometendo o desempenho e a continuidade da prática desportiva.

Outro factor apontado por Bango para o declínio do futebol na ilha Brava é a emigração. A freguesia de Nossa Senhora do Monte, tradicionalmente um dos maiores polos de apoio aos clubes de futebol locais, tem perdido muito do seu interesse pelo desporto, sobretudo devido à migração em massa para o exterior. "A emigração tem levado muitas pessoas a abandonarem a ilha, e com isso, a ligação dos jovens e das suas famílias aos clubes de futebol tem diminuído consideravelmente", explicou o presidente. Essa mudança tem refletido diretamente na diminuição da base de apoio, tanto em termos de público quanto de talento para as equipas.

Bango também destacou a dificuldade de gerir um clube de futebol na ilha Brava, onde a responsabilidade recai quase exclusivamente sobre uma única pessoa. Ele relatou que, devido à falta de comprometimento e de engajamento de outros membros da comunidade, tem sido extremamente desafiador gerir um clube com tantas obrigações e pouca ajuda. "É impossível estar à frente de um clube onde tudo está sob a responsabilidade de uma única pessoa. A falta de voluntários, de apoio da comunidade e até mesmo da colaboração de alguns membros da gestai é um problema constante", desabafou o presidente, que ainda luta para manter o clube de pé.

Outro ponto crítico levantado por Bango foi o comportamento dos jogadores locais. Ele afirmou que muitos atletas agora exigem pagamentos altos para contribuir com o futebol, algo que, em sua visão, compromete a essência do desporto e torna a competição menos acessível e mais elitista. Jogadores que antes se sacrificavam por amor ao clube e à camisola, agora estão a pedir somas “elevadas” em dinheiro . O futebol na ilha Brava, como em muitas outras zonas, está a tornar-se um negócio em vez de uma paixão, alertou Bango.

A falta de interesse pelo futebol, especialmente entre as novas gerações, e a crescente "profissionalização" do desporto, são vistos como grandes obstáculos à revitalização do futebol na ilha. Para Bango, é necessário repensar a maneira como o futebol é promovido e apoiado na ilha, com uma maior valorização da formação e da base local.

Para o presidente do Benfica da Brava, a situação actual exige reformas urgentes. Bango defende que é necessário um esforço coletivo para reorganizar e financiar adequadamente o futebol na ilha. O futebol não pode ser sustentado apenas pelas mãos de um ou dois, é necessário uma acção conjunta de todas as partes envolvidas: clubes, federação, comunidade e poder local", afirmou.

No entanto, ele reconheceu que a solução não será fácil e que o caminho à frente exigirá grande esforço e compromisso de todos os envolvidos. "Se não houver um apoio real, um compromisso verdadeiro com o desporto e uma colaboração eficaz entre todas as partes, o futebol na ilha Brava poderá entrar em declínio irreversível", concluiu Bango.

Essa entrevista expõe a difícil realidade do futebol federado na Ilha Brava e serve de alerta para os desafios que o desporto enfrenta em várias regiões do país. A combinação de dificuldades financeiras, falta de engajamento da comunidade e a mudança de prioridades da população exigem um esforço conjunto para salvar e revitalizar o futebol local.

MS