Santo António/Brava: Coladeira teme perda da tradição da bandeira

Maria Gonçalves, uma festeira de uma das bandeiras da Brava, teme que o envolvimento monetário para pagar coladeiras nos últimos anos coloque em causa os traços e as festas tradicionais da ilha.

Jun 13, 2023 - 07:15
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Santo António/Brava: Coladeira teme perda da tradição da bandeira

Maria Gonçalves, uma festeira de uma das bandeiras da Brava, teme que o envolvimento monetário para pagar coladeiras nos últimos anos coloque em causa os traços e as festas tradicionais da ilha.

A festeira, mais conhecida por “Nha Barbinha”, da localidade de Braga, cidade de Nova Sintra, veio brincar o “pilon” de Nhô Santo António na localidade de Lém e é ela quem contou à Inforpress um pouco da história e o ritual desta tradição bravense.

A mulher de 65 anos disse que vem brincando o “pilon” há mais de 50 anos, porque é algo que encontrou no seio familiar e um legado que tem passado aos seus filhos e gerações mais novas da localidade de Braga.

Entretanto, acrescentou que é festeira da Santa Cruz, há 24 anos, e pretende cumprir a tradição enquanto estiver viva, reforçando que possui um grupo de coladeiras e tocadores para esta festa que também é conhecida como “colinha” na ilha Brava.

A festeira explicou que o “pilon ou kutxi” é tradição da bandeira, feita sempre na antevéspera das festas, em que normalmente costumam participar muitas pessoas, mas acrescentou que este ano o “pilon” de Santo António não teve muita adesão por parte da população bravense.

De acordo com a mesma, a adesão vai ser cada ano “mais fraca”, tendo em conta que os jovens já “não estão” tão apegados aos rituais tradicionais e que muitas coladeiras agora estão a cobrar para participarem nestas actividades.

Mas deixou claro que do seu grupo ela é a mais idosa e o legado que tem transmitido aos mais jovens é que participem em tudo quanto é festa de bandeira, mas para não cobrarem nada, porque bandeira não se cobra, principalmente dinheiro.

Normalmente, sobre esta tradição, a mesma fonte contou que os homens tocam o tambor, ou mesmo algumas mulheres de coragem, as outras mulheres cantam e vão “colando” ao ritmo do toque e todos os interessados participam no habitual kutxi midjo e, neste mesmo espaço, encontram-se aqueles que vão distribuindo os comes e bebes.

Para a festeira, brincar “pilon” é uma alegria “sem medida”, é uma tradição que sai da “linha do coração” e enquanto tiver com vida, pode ser com bengala, desde que consiga levantar-se, ela garantiu que vai brincar o “pilon” sempre.

Em relação à bandeira, considera-a uma “grande satisfação”, até porque, de acordo com a mesma, todos têm interesse em festejá-la, mas a de Santo António não pode sair da zona de Lém, e é por isso que ela e o seu grupo deslocam-se da sua zona para festejarem em Lém, juntamente com os festeiros que tomaram esta responsabilidade.

Daí, devido à importância que esta tradição possui na ilha, Nha Barbinha salientou que a mesma não deve ser esquecida e nem abandonada, porque é algo que veio desde há muitos anos, e que não devem cobrar aos festeiros para este ritual, lembrando que o que sempre reinou é a distribuição de comes e bebes.

Igualmente, ela é de opinião que os jovens devem dar continuidade às tradições, pois, os que estão a festejar até esta data, já estão com uma certa idade e a cada dia que passa, vão retrocedendo, daí, pede-lhes que se engajem nesta tradição porque a bandeira “não pode ser enterrada” e são os jovens que têm de impedir que isso aconteça.

Para o dia 12, estão agendadas às vésperas, bênção da bandeira e o ponto alto destas festividades acontece terça-feira dia 13, dia de Santo António, onde o dia inicia bem cedo, logo às 06:00 com o cortejo ao mastro, seguido da missa solene e procissão, o tradicional almoço e no final do dia o bote ao mastro.