São Vicente/Carnaval: Ninguém quis perder “desfile grandioso” que pôs Mindelo a vibrar
Maria M., vamos chamar-lhe assim, 49 anos, chegou à Rua de Lisboa, às 09:00, e dali só saiu dez horas depois, para marcar dois lugares no passeio frontal ao palanque principal, porque o dinheiro “não dá” para bancadas.
Maria M., vamos chamar-lhe assim, 49 anos, chegou à Rua de Lisboa, às 09:00, e dali só saiu dez horas depois, para marcar dois lugares no passeio frontal ao palanque principal, porque o dinheiro “não dá” para bancadas.
E não é que a senhora, que inicialmente necessitava de dois lugares para assistir ao desfile carnavalesco da tarde de hoje, com um familiar, conseguiu sete e, até, “algum lucro” porque os restantes cinco foram “vendidos a pacote único” por mil escudos.
Dali não arredou pés, ali mesmo almoçou, trazido por um familiar, de casa, e lá assistiu o desfile, num banco improvisado, no seu “lugar de costume” e, ”ainda por cima”, levou dinheiro para “o café de quarta-feira”, contou à Inforpress, hora antes do início dos desfiles, às 15:00.
“Faço venda ambulante junto às escolas, mas como este é um período de férias, por causa do Carnaval, não tenho vendido nada”, sintetizou, e, por isso, “não há dinheiro para pagar bancadas”.
Do passeio, na Rua de Lisboa, Maria M. e os milhares de pessoas, nas bancadas lotadas, e no resto do percurso do Corso carnavalesco apinhadas de gente, assistiram a um ”desfile grandioso” que fica marcado pelo inovação no campo acústico, com uma propagação de som há muito pedida pelos mindelenses e agora, finalmente, resolvida.
O primeiro grupo que entrou na Rua de Lisboa, o Monte Sossego, fê-lo à hora marcada, 15:00, com três carros alegóricos, tripé, comissão de frente e foliões, muitos foliões, que ajudaram a contar a história de um Carnaval que é uma novela, na versão do grupo, numa referência às telenovelas brasileiras que passaram em Cabo Verde, desde o tempo da Televisão Experimental de Cabo Verde (TVEC), nos anos 80 do século passado.
Dali para frente seguiram-se Flores do Mindelo, Estrelas do Mar e Cruzeiros do Norte, num espectáculo de rua que durou quatro horas e que, a julgar pelos comentários, agradou, primeiro pelo som, mas também pela energia, cor, folia, músicas, organização dos grupos e civismo da população.
“Qualquer pessoa de qualquer parte do mundo ficava satisfeito depois de assistir a um espectáculo como este”, comentava um jovem, num grupo de amigos, que, diziam não ter adjectivos para qualificar o Carnaval 2019, que atraiu, inclusive, a atenção da mascote dos Jogos Africanos de Praia, previsto para Junho, na ilha do Sal.
O Carnaval 2019 foi encerrado por um baile na Rua de Lisboa abrilhantado pelo sambista brasileiro Tunico da Vila e banda e pelo mindelense Constantino Cardoso.
Antes de deixar a Rua de Lisboa, o repórter ainda procurou Maria M. (lembram-se?) para saber a quantas andava o grau de satisfação dela pelo espectáculo que acabara de assistir.
“Nota dez, valeu a pena o meu esforço, agora, não gostava mesmo nada de estar na pele de quem vai decidir o vencedor”, lançou, ao mesmo tempo que apontava dois grupos como os seus favoritos.
O veredicto, Maria M., será conhecido às 15:00 desta quarta-feira, na “tua Rua de Lisboa”, e ali saberás se o teu prognóstico “bateu certo”.
Tem a palavra o corpo de jurados.