Tarrafal: Neves preocupado com a “degradação da qualidade da democracia” diz ser necessário arranjar “antídotos” para a situação
O Presidente da República (PR) demonstrou- hoje a sua preocupação com a “degradação da qualidade da democracia” diante do cenário mundial e diz ser necessário arranjar “antídotos” para o combate a esta situação.
José Maria Neves, que discursava na cerimónia do cinquentenário da libertação de presos políticos do Tarrafal, reconheceu que hoje Cabo Verde tem um Estado de direito democrático que funciona e que se está a dar “passos firmes rumo à modernização do país e ao seu desenvolvimento durável, com um forte engajamento de todas as sensibilidades políticas e sociais”.
Entretanto, diante do cenário mundial, diz constatar com “preocupação, a degradação da qualidade da democracia, para a qual há que arranjar antídotos”, cenários como o recuo em setores como educação, saúde e solidariedade, o aumento das vagas migratórias, entre outros aspectos, considerando que são sinais de um retrocesso e um caminho “oposto ao do desenvolvimento”.
“A política configura-se como uma das mais nobres e recompensadoras actividades humanas. A democracia é possibilidade de divergências e de entendimentos. Há tempo para desacordos e tempo para concordâncias. Há que reaprender a discutir, a se respeitar uns aos outros e a actuar com sentido de interesse público”, disse o chefe do Estado, apelando que nesta época que se aproxima das eleições, este período não seja transformado numa fábrica de rancores, reforçando que “a luta pelo poder não pode desumanizar, não pode justificar tudo”.
Aliás, defendeu que “é preciso ter capacidade para fazer rupturas, ter atitudes disruptivas e projectar o país que ambicionamos para os próximos cinquenta anos”, um país que, conforme destacou José Maria Neves, deve ser de “mais liberdades, mais igualdade, mais prosperidade, mais inclusão, mais justiça social”.
Neste sentido, sublinhou ainda que “é preciso proceder a uma profunda reforma do Estado, de forma a descentralizar mais, concedendo mais poderes e mais recursos às ilhas”, criando “mais espaços de participação dos cidadãos e garantir mais autonomia da sociedade civil”.
José Maria Neves ressaltou que as alternâncias, saudáveis em democracia, por si sós “não podem justificar rupturas e descontinuidades de políticas públicas, com desperdícios de recursos e sérios prejuízos para as instituições e para a dinâmica económica e social”, aconselhando que as mudanças “devem ser muito bem ponderadas”, de modo a expressarem os reais desejos e sentimentos das pessoas e da sociedade civil.
No momento que se comemora os cinquenta anos da Libertação dos Presos do Campo de Concentração do Tarrafal, o chefe do Estado pede a todos que esse momento sirva sobretudo para o futuro, para os próximos 50 anos, enfatizando que “frágil como é, a democracia precisa de cuidados intensivos e permanentes”.
Para finalizar, José Maria Neves alertou para a necessidade de se “estar à altura das responsabilidades, promovendo as liberdades, cuidando e defendendo a democracia, para nunca mais falar de campos de concentração”.