TCV muito criticado por não cobrir o Dia da Cultura na ilha Brava. - Convém lembrar que Eugénio Tavares, por acaso nasceu na Djabraba

Espanta-se que a Televisão Pública, pago com dinheiro dos cabo-verdianos, incluindo cidadãos da ilha Brava,  não teve a preocupação de fazer qualquer referência a rica programação do Dia da Cultura na ilha.

Oct 20, 2018 - 17:24
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TCV muito criticado por não cobrir o Dia da Cultura na ilha Brava. - Convém lembrar que Eugénio Tavares, por acaso nasceu na Djabraba

Espanta-se que a Televisão Pública, pago com dinheiro dos cabo-verdianos, incluindo cidadãos da ilha Brava,  não teve a preocupação de fazer qualquer referência a rica programação do Dia da Cultura na ilha.

Convém lembrar a RTC/TCV que Eugénio Tavares por um mero acaso nasceu na ilha Brava, nos idos anos de 1867, a 18 de Outubro, que também por acaso foi escolhido ser o Dia da Cultura e das Comunidades emigradas.

Vale ainda lembrar que a emigração para os EUA, a maior comunidade de caboverdianos no mundo, começou com um bravense no século dezanove.

E não desgasta lembrar que a primeira embaixada americana em Cabo Verde teve sua sede na ilha Brava, Cidade de Nova Sintra.

A historia, embora podera ser ignorada, mas nunca apagada!

Se Eugénio Tavares, o patrono do Dia da Cultura nasceu na ilha Brava, se a emigração para a maior comunidade cabo verdiana emigrada começou com um bravense, porque a Televisão Pública não dedica nem um minuto a programação do Dia da Cultura na ilha Brava?

Sera descaso? Sera tentativa de apagar a história? Será falta de recursos técnicos e financeiros? Será propositado para prejudicar a ilha, umas das mais belas e limpas de Cabo Verde?

Os estudiosos consideram Eugénio Tavares como um dos grandes cultores da língua portuguesa, trabalhada em suas diversas formas. Exímio na prosa e no verso, mas também como polemista consequente de panfletos cívicos e políticos, ele é sem dúvida um dos nossos grandes patrimónios humanos. Era igualmente um cultor singular, senão mesmo figura modal, da língua cabo-verdiana, sobretudo nas suas defesas em prol da língua materna e nas suas composições musicais.

Eugénio Tavares considerava o reconhecimento da língua crioula, à par da portuguesa, como uma questão da cidadania. O bilinguismo que simboliza, em todos os títulos, a complementaridade do homem cabo-verdiano, mas que até hoje, apesar do discurso político, não foi assumido oficialmente.

Em verdade, Eugénio Tavares interpela-nos a um olhar não apenas historiográfico como também mítico. Entre sua gente, ele foi bem mais do que poeta, compositor ou polemista. Ele é lembrado, sobretudo, como uma figura mítica, protagonista de vários episódios lendários na ilha.

É nessa ilha, hoje marginalizada, onde foi realizado desde inícios de Outubro inúmeras actividades, com um recuo ao passado, destacando o “fim de ano de Bedjo”, exposição de rendas e bordados, brincadeiras de crianças, etc, que a Televisão de Cabo Verde teve a ousadia de ignorar.

Do meu ponto de vista, creio ser pertinente analisarmos alguns sinais. Pensar efectivamente a Cultura, através dos seus vários agentes, conhecer a matriz cultural crioula, na sua diversidade e intensidade, olhar a Cultura como uma disciplina transversal e incontornável no desenvolvimento do país, mas como, se o que for feito nunca sera divulgado?

Um recuo ao passado com a perspectiva do futuro é outro grande desafio. Perdemo-nos, muitas vezes, porque não conhecemos suficientemente o nosso passado. Não olhamos na sua plenitude legados como os de Eugénio Tavares, Pedro Cardoso, Baltazar Lopes da Silva, Amílcar Cabral e tantos outros. Precisamos cuidar dos nossos patrimónios, quer humanos, quer materiais. Com respeito e competência. Amor, principalmente. Mas como se a comunicacao social publica, especialmente a TCV, a unica estacao publica, nao divulga?

E por que o desenvolvimento sócio integrado passa também pela Cultura, olhemos a Brava, ilha que recusa a antítese do canto, com outro senso e sentido. Um arquipélago frágil, como Cabo Verde, não pode cultivar tantas assimetrias. É desintegrador. Perigoso!

A Televisão Pública, ao invés de apoiar na integração, diminuindo as assimetrias, faz exactamente o caminho inverso. Só cobre a Brava por altura de São João e alguns jogos do campeonato regional e nacional.

Ainda não chegou a hora caro Presidente da Câmara Municipal Francisco Walter Tavares de dizer um basta ao abuso, prepotência, descaso, discriminação da ilha Brava por parte da RTC-TCV?