TEMPO DE ARREPIAR CAMINHO - Jose Maria Neves
Devemos ter a humildade de reconhecer que cometemos, todos nós, erros graves em 2011, quando nos dividimos em torno da questão presidencial. Eu, que era então líder do Partido, tenho mais responsabilidades e assumo-as na plenitude. Só quem não age deixa de errar.
1. Devemos ter a humildade de reconhecer que cometemos, todos nós, erros graves em 2011, quando nos dividimos em torno da questão presidencial. Eu, que era então líder do Partido, tenho mais responsabilidades e assumo-as na plenitude. Só quem não age deixa de errar.
Enquanto instituição, o Partido saiu muito fragilizado e com enorme desgaste emocional. Foi necessário intenso diálogo entre nós, com humildade e sentido de responsabilidade - devemos respeito àqueles que, antes de nós, fundaram e construíram o PAICV. Organizamos uma Conferência Nacional e em 2013 o Congresso da Reconciliação. As feridas de uma guerra de família levam tempo a sarar.
2. As lutas intrapartidárias são, devem ser, naturais nos partidos democráticos. São processos decisórios e de escolha das lideranças inerentes à democracia que caracteriza os partidos modernos moderados de esquerda ou de direita.
Em Cabo Verde, as disputas no seio dos partidos, todos eles, têm-se transformado em fontes de conflitos e de divisões internas. As razões estarão relacionadas com imaturidade emocional e falta de inteligência contextual. Cada um quer ter toda razão e na busca de mais e mais e cada vez mais razão acaba por afogar-se nas próprias derivas e contradições.
Nos partidos a adesão é voluntária. Todos amam igualmente o partido a que livremente aderiram e ninguém é mais militante do que o outro.
É sempre perigoso quando alguém se arvora em titular da consciência moral do partido a que pertence e se assume como inquisidor mor e único com capacidade de impor o bem aos outros.
As disputas só revelam vitalidade se estribarem em regras do jogo claras e aceites por todos e em ideias e propostas alternativas de governação partidária.
Todos perdem quando uma disputa se resvala para ataques pessoais e destrutivos de carácter.
Cada ataque a um membro ou dirigente atual ou antigo é um golpe desferido no coração do próprio partido, que supostamente se defende.
Quem é membro e defende os princípios e os valores do PAICV não ataca os seus companheiros, na ilusão de que ele é “santo” e o outro é diabo, ele é o eixo do bem e o outro o eixo do mal. “Quem não tem pecado que atire a primeira pedra”, disse Jesus Cristo há mais de 2000 anos!
A política do terror e da inimizade nunca produziram bons resultados.
3. Peço, pois, aos meus companheiros que paremos com os ataques pessoais, porque independentemente do lado da barricada em que estivermos, estamos a destruir o Partido, quando desferimos golpes fatais àqueles que pensam de forma diferente de nós e que erigimos em inimigos a abater.
Podemos discordar e disputar em torno de ideias, com a consciência clara de que a democracia também pode ser compromissos.
Neste momento, devíamos estar a discutir a Agenda Autárquica e o Programa 2030 do PAICV, com propostas inteligentes, inovadoras, ousadas e adaptativas, para mobilizar a sociedade e os cidadãos em torno de novas ideias quanto ao futuro.
Estranhamos porque perdemos as eleições, apesar das fragilidades dos nossos adversários. Um partido desunido, onde ninguém escapa aos ataques amigos de uns e de outros, não ganha nada.
Precisamos de respeito mútuo e de autocontrole. Todos nós somos poucos para a grandeza da obra que nos espera.
Resgatemos o espírito de amizade e de companheirismo que devem nortear as relações entre membros de um mesmo partido.
O PAICV é mais do que cada um e todos nós juntos.
Jose Maria Neves