TRISTE REGRESSO! - Poema de Eugenio Tavares
Dentro da claridade plúmbea da manhã A Ilha, sobre o mar, lembra uma catedral. As nuvens em silêncio emergem devagar Qual um fumear de incenso, Num ascetismo intenso.
TRISTE REGRESSO!
Dentro da claridade plúmbea da manhã
A Ilha, sobre o mar, lembra uma catedral.
As nuvens em silêncio emergem devagar
Qual um fumear de incenso,
Num ascetismo intenso.
Num perfume subtil de velha fé cristã,
Pelas naves glaciais da brônzea catedral,
A Ilha, sobre o mar.
E sobem vagamente em lágrimas banhando
A dura fronte augusta e grave dos rochedos.
Bebe em fundo silêncio a terra fulva, adusta,
A lágrima que cai;
E a nuvem passa, vai,
Numa insondável mágua imensa rorejando
Em gélido suor, dos túrbidos rochedos
A dura fronte augusta.
Mas, já da opa cinzenta a Ilha se desnuda,
Beija-a com fúria o sol; dentes de fogo a comem,
O vento reduziu-lhe a trapos o lençol.
Emerge, e se acentua,
Do mar, imóvel, nua,
Transida de tristeza, em uma angústia muda…
E enquanto ao longe as nuvens álgidas se somem
Beija-a com fúria o sol.
Da c’roa do plató á fímbria da devesa
As árvores sem vida estorcem-se de sede.
E o sol - bem como um rei fanático, homicida -
Fustiga-as a matar
E ri-se ao incendiar
Os ramos - como mão erguidas de quem reza -
E as folhas - como mãos abertas de quem pede -
Das árvores sem vida.
Enfim, o meu Navio, aos poucos se aproxima.
Nos tristes olhos meus, em lágrimas, rebrilha
A dita de ancorar após mil escarcéus.
E, pois que as nuvens vão
Fugindo na amplidão
Sem que uma gota de água enviem lá de cima,
Darei à tua sede o pranto - ó minha Ilha! -
Dos tristes olhos meus.
EUGÉNIO TAVARES