UCS sob pressão e debaixo do fogo cruzado, o dilema da remodelação governamental em Cabo Verde (texto elaborado a partir de uma análise de Cecilio Cabral)

Ulisses Correia e Silva e o Sistema MpD: O jogo de forças e tensões políticas que podem redefinir o futuro do país

Feb 2, 2025 - 02:02
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UCS sob pressão e debaixo do fogo cruzado, o dilema da remodelação governamental em Cabo Verde (texto elaborado a partir  de uma análise de Cecilio Cabral)

“A política é a arte de impedir que as pessoas se preocupem com o que realmente importa.” – Henry Adams

Cabo Verde vive, neste momento, um cenário político repleto de tensões, desafios e questionamentos sobre a gestão do governo liderado por Ulisses Correia e Silva. O actual primeiro-ministro do país, à frente de uma administração sustentada pelo Movimento para a Democracia (MpD), enfrenta não apenas as dificuldades estruturais e socioeconômicas do país, mas também um clima de instabilidade política que coloca seu governo em um cenário de constante pressão.

O Sistema MpD, partido que dá sustentação ao governo de Ulisses Correia e Silva, conta atualmente com 38 deputados no Parlamento, o que lhe confere uma maioria absoluta, mas, ao mesmo tempo, frágil e instável. O que isso significa na prática é que, para aprovar qualquer projeto ou medida de governança que requeira maioria simples, como o Orçamento do Estado, Moções de Confiança ou Moções de Censura, o governo pode precisar de apenas 37 votos. No entanto, a diferença de apenas um voto torna-se um risco considerável.

Essa vulnerabilidade política é acentuada pela possibilidade de "vinganças políticas", em que até mesmo a ausência de dois deputados pode colocar o governo em xeque. No contexto actual, qualquer movimento impensado ou decisão equivocada, como a remodelação governamental, pode significar uma ruptura ainda mais profunda e a queda do governo.

 

Com o cenário acima, é compreensível o temor de Ulisses Correia e Silva em fazer movimentos significativos dentro de sua administração. A remodelação governamental – algo que se torna cada vez mais necessário à medida que a pressão sobre o governo aumenta – exige uma habilidade política extraordinária. E essa habilidade, segundo analistas, precisa ser cuidadosa para não desestabilizar a relação do Governo com o Parlamento e, consequentemente, com a população.

O grande desafio de Ulisses Correia e Silva reside no fato de que a maioria dos membros do governo são também deputados nacionais. Isso implica que, caso ele decida realizar uma reforma significativa, muitos de seus ministros poderiam ser deslocados de seus cargos e voltar para o Parlamento, enfraquecendo a já frágil maioria do governo. Esse jogo político de xadrez, onde cada movimento pode ser decisivo, é o que torna a situação de Ulisses Correia e Silva ainda mais delicada.

O "medo" de uma remodelação não se trata apenas de uma questão interna do governo, mas de uma questão de sobrevivência política. Ulisses não pode correr o risco de perder apoio parlamentar, que pode, em última instância, resultar na perda de seu cargo e na possibilidade de novas eleições. Esse temor é o que faz com que, nos bastidores, muitos especulem sobre o impacto psicológico dessa situação sobre o primeiro-ministro. Será que ele consegue dormir à noite? Será que a tensão é insuportável diante da responsabilidade de governar em um cenário tão volátil?

Enquanto o país aguarda com expectativa e alguma ansiedade por uma possível remodelação do governo, a população se encontra em uma espécie de limbo político. Por um lado, muitos cidadãos e analistas políticos defendem que uma mudança na composição governamental seria necessária para dar novo fôlego à administração, especialmente diante dos desafios enfrentados em áreas como a economia, saúde e educação.

Por outro lado, a política de alianças e os riscos de instabilidade tornam a decisão extremamente difícil. A remodelação, que em outros contextos poderia ser vista como uma estratégia para dar novos rumos ao governo, parece, neste momento, ser um terreno minado, onde cada passo em falso pode ter consequências desastrosas.

A figura de Ulisses Correia e Silva, neste cenário, é central para a compreensão da actual crise política. Apesar de ser amplamente reconhecido por sua habilidade em manobras diplomáticas e governamentais, ele se vê agora pressionado por forças internas e externas que exigem mais do que palavras e promessas. Ele é o homem que, neste momento, deve responder a questões urgentes de gestão política, sem sacrificar a estabilidade que ainda resta.

A verdade é que o governo de Ulisses Correia e Silva não pode continuar ignorando as pressões externas. A remodelação governamental, que pode ser vista como uma resposta às críticas internas e externas, precisa ser feita com a máxima cautela. É necessário mais do que nunca uma liderança firme e estratégica para evitar que o castigo dos "bons que não fazem política" se torne realidade em Cabo Verde: a ideia de serem governados pelos "maus".

À medida que os dias passam e a pressão continua a crescer, muitos se perguntam qual será o futuro imediato do governo de Ulisses Correia e Silva. A resposta, por ora, permanece incerta. A remodelação que se impõe não será apenas um ajuste ministerial, mas um verdadeiro teste de resistência política.

O país aguarda com serenidade, mas também com uma dose de impaciência, as decisões que estão por vir. Será que o governo conseguirá sobreviver à tempestade política que se avizinha, ou a instabilidade será o ponto de ruptura definitivo?

Os próximos meses serão cruciais para o futuro político de Cabo Verde. Ulisses Correia e Silva, neste momento, está sob  fogo cruzado, com cada decisão a ser medida cuidadosamente, pois o peso de cada movimento pode ser a diferença entre manter o poder ou ver a queda do governo.